3.9.11

Ainda é criança todo aquele que chora sem razão. Que sente fome e não quer comer. Que não quer dormir de noite. Que finge o frio pra se aproveitar do afeto. Ainda é criança quem não sabe o que escrever na folha em branco. Quem não sabe se expressar muito bem. Quem não conhece todas as palavras do dicionário capazes de descrever o indescritível. Ainda é criança quem se entrega à timidez. Quem não tem a raiva nos olhos. Quem acorda no meio da noite com tanto medo da solidão que só uma pessoa seria capaz de entender: ela mesma.
Também é criança aquele tal que aprende sozinho que os ferimentos também cicatrizam. Nem sempre é preciso tirar a casca da ferida... na verdade, nunca foi. É criança aquele que não sabe lidar com os próprios padrões: há de escolher-se pelo menos um. É criança quem tem medo de perder, de mentir, de fugir de casa, de ter pesadelo, de ir ao cemitério, de levar uma surra, de ficar de castigo. Criança é quem diz.

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