24.4.11

Hoje eu passei sozinha pela rua onde tudo começou. E tão sozinha que tenho quase certeza de ter ouvido a voz dela. Mas não entendi bem, porque há dois anos atrás, ela não falava comigo. Ou talvez falasse, me mandasse esquecer tudo, essas coisas. Eu não ouvia porque não queria. Mas hoje eu percebi que além de voz, além de garganta, ela tem pernas e braços e mais o diabo que ninguém faz idéia. E só de ter braços e mãos, ela me desferiu um tapa na cara com toda a força que a minha vergonha era capaz de suportar. Um horror...
No chão, entre uma calçada e outra, os pés de hortelã continuam brotando, verdes, sem timidez. O sol nas minhas costas queimava feito ferro em brasa, e eu ia andando, matando as hortelãs e amaldiçoando aquela bola de fogo sem dizer palavra... O fogo não me machucava por fora. Talvez eu amaldiçoasse tanto por raiva de ver que a calçada ainda era capaz de deixar surgir vida nova mesmo depois do fim de toda a história.
E mesmo assim, eu ainda não esqueci. Mesmo com marca de asfalto no rosto, com gosto de piche na boca, com joelho coberto de cal, com as costas queimando de raiva, eu ainda não esqueci.

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