Foram necessárias somente quatro páginas para que ele surgisse mais uma vez.Eu, cansada como estava,não pude negá-lo,ou não quis. O meu coração parece que falou dessa vez, não mais alto, porque ele sempre foi mudo como uma pedra, mas tão sensível... E eu, que mais poderia fazer senão aceitar de novo aquele que já era meu antigo conhecido?
Pelo meu desgosto em querê-lo, não tive reação alguma, lutei contra o meu próprio desejo e assim construí a minha frieza tão minunciosamente traçada para momentos como aquele.É claro que o meu corpo,desornado como era,não se deu por vencido à atitude que eu estava tomando ali,porque ele era impulsivo,e eu destava!
De fato,me entreguei ao devaneio,muito chateada por não ter sido mais forte,ouvindo o suspiro aliviado da minha consciência que insistia em gritar pelo descanso,que não vinha nunca... Em mim não cabia mais desespero,eu não suportava nenhuma angústia maior do que aquela,e meus dedos correram a buscar um lápis,um papel,o que quer que fosse que pudesse tirar de mim aqueles pensamentos que foram tão longe.
Sem alternativas,escrevi sem freios,riscando e cortando palavras que atropelavam meu silêncio.Nessas horas eu deixava de ser dona de mim e passava a ser dona do papel.Essa ânsia de correr em silêncio,esperando que as letras surgissem como... como o quê?Meus dedos,calejados,já não suportavam a dor que meus pensamentos lhes causavam,suplicando pelo momento em que eu deixaria de lado essa minha loucura.
E esperam até hoje.
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