9.3.10

Dou A Solução.

Eu,produto do concreto,minunciosamente calculada,ajoelhada diante dos olhos espelhados de Deus,que refletem minha alma urbana de tantas personalidades.
Eu,tão errônea e tão errada,escrava da poeira e da secura,feita do asfalto fervido,sentindo a vibração violenta dos carros velozes em minhas veias,orgulhosa e orgulhada,estou agora diante do veredicto dos pálidos anjos da catedral do meu coração.
Eu,filha de tantos pais e tantas mães,órfã do meu próprio destino,agora estou vagando de boca em boca,envergonhada,despudorada,desprevenida.Minha obra tão perfeita hoje é lapidada pelas grossas mãos de uma fada,obrigada a trabalhar de sol a sol sob as ordens de quem hoje esconde suas vergonhas atrás de meras grades enferrujadas.
Eu,de alma tão jovem e desgastada,faço da luz que surge na alvorada mais um dia que se segue,roubando o sono leve de meus olhos marcados,me erguendo sobre minhas fracas pernas infantis,dando os vacilantes passos rumo ao meu eu,capital da minha própria nação,rezando sob o véu da mentira que um dia há de ser rasgado.
Eu,aqui,dividida entre tanto,grata por muitos,me calo às seis sob o rimbombar dos sinos monumentais,respirando fundo a música que ecoa pela minha pele cinzenta,guardando a paz de um novo momento.

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