26.8.14

Nos últimos tempos, minha médica tem feito perguntas sobre as quais tenho a resposta na ponta da língua, mas prefiro que minhas palavras vagas tomem o tempo dela. As vezes só tenho vontade de chegar naquele divã e falar "você me fez cair no cheque especial", mas sei que ela já me levantou de outras coisas.
Ela já percebeu que de uns meses pra cá eu ando meio obcecada pela janela enorme que fica virada para a mórbida vida dos aposentados das setecentas. A janela vai da minha cintura até quase tocar o teto. Posso ver, mas não posso ser vista. Encosto a testa no vidro e espero o cessar das interrogações. Tomo coragem.
"Daqui dá pra pular."
É só mais um susto. Eu sei que ela se esforça pra me curar, afinal, quem vai querer se tratar com a psicóloga de uma paciente que se suicidou? Ela me olha, mas não me vê. Porra, não é depressão, é só questão de prioridade, sabe?
Meu casaco, meu laudo, minha bolsa. Olho de novo pra janela. Antes de fechar a porta, ainda me faço ser ouvida.
"Você já tentou, né?"

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