8.6.11

Veio um amigo meu me falar sobre a morte, mas eu não entendi muito bem. Meu cérebro tava meio amortecido por causa do cansaço, e acho que andaram instalando uns air-bags no meu crânio sem a minha autrização. Eu tava com as mãos descalças, e o vento judiava da gente, trazendo o inverno pra abraçar minhas pernas como um amante sem valor.
Ele falou alguma coisa sobre morte rimar com sorte. Eu prestava atenção em algumas coisas, aí abafava as minhas mãos, esfregava, olhava para os pés. O seujeito tinha morrido de infarto. Infarto é mais ou menos quando o coração não aguenta mais e joga a toalha. Acho que eu já morri de infarto umas cinco vezes, mas ainda continuo contando. Eu tava doida pra ir pra casa e pegar um casaco, ou pra enfiar o dedo nos ouvidos. Que mané morte!
O sujeito tinha tido câncer no pulmão sem nunca ter encostado num cigarro. Pro diabo com essa história! Pulmão entumorado... Foi uma palavra assim que ele usou. Aí falou de novo sobre morte rimar com sorte. E que sorte tem um homem que morre de AVC? Bom, pelo menos morrendo ele não ficou com sequela nenhuma. O médico disse que foi fulminante, mas eu duvido muito...
Eu falei que ia pra casa. Meus joelhos estavam doendo de ficar em pé, e eu ainda tinha que passar no mercado antes. Ele me mandou tomar cuidado, deu um beijo na minha testa. Acho que já era verão quando o assunto acabou.

Um comentário:

  1. sei bem dessa história. adoro o jeito que vc escreve, com essa pegada leve. continue assim, bro. e mude logo para o jornalismo. :)Paulo Pimenta

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