17.6.15

Eu te proíbo.

Ontem, esperando mais um episódio de um programa que me extasiaria na falsa adrenalina de torcer por um vencedor (ou só assistindo mais um reality show de culinária), coloquei a isca para boiar sobre as tensas águas da ansiedade, esperando o peixe de lábios feridos que novamente viria à superfície para morder o amargo sabor de outro dia comum. Não foi preciso mais do que um suave puxão para que ele me levasse às profundezas do meu raso conhecimento sobre coisa nenhuma, e ali, nadando em braçadas disformes, enxerguei comigo tantos outros corpos presos na distante correnteza da proibição.

A odiosa maré carrega consigo pessoas atadas de mão em mão que não (se) permitem a felicidade dos outros senão aquela que está entre suas palmas. Aquela, que por ser construída em conjunto, terá de ser um capítulo eterno de páginas puídas, de letras mal cabidas, de frases apertadas e palavras esquecidas. A água, escorregadia, volta e meia carrega consigo alguém que já não pode mais segurar aquela pele enrugada, e esse alguém esbarra aqui ou ali em um transeunte que o afasta da correnteza. Os furiosos abandonados apertam os dedos contra as palmas enquanto procuram pela correnteza uma forma de justificarem os motivos explícitos. "Eu te proíbo", sibilam, "de ter outra mão atada à sua".


Vejo os sentimentos partindo em uma nova jornada, mas a correnteza alimenta a incessante necessidade dos egos proibidores, como um sangue envenenado que não se pode mais limpar. E dali me afasto, atando felizmente minhas mãos aos firmes dedos desse alguém que me escolheu para podermos, juntos, voltarmos à superfície.

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