Eu sou um encaixe sobre as minhas quatro rodas. Caibo perfeitamente entre duas portas, e como um papel, me dobro em vezes suficientes para que eu não exista mais. Em cada vinco de mim, a dor que em pouco tempo vou esquecer, e que por muito tempo será lembrada, mas não mais em mim. E na minha aceleração constante, subo em árvores ou me escondo sob velhos caminhões, e quem sabe não apago mais um poste como quem assopra uma vela no escuro.
Sobre minhas quatro rodas, sou obsoleta e desnecessária, e meu sangue cheira à gasolina derramada no asfalto. Meus ossos, maleáveis como as marchas, passam de um em um pela minha pele, quebrando as janelas de meus olhos em sua última freada.
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