A gente morava dentro desse carro. Com as suas músicas, com as minhas, no estacionamento vazio ou com todo mundo olhando, era lá que a gente morava. Até entendo, nunca gostei dos vizinhos e você não tinha dinheiro pra sua gasolina. Eu pagava o aluguel e a língua toda vez que você vinha se abrindo inteiro, apertado debaixo do meu guarda-chuva vermelho até o estacionamento. E na chuva a gente contava as gotas de dentro e de fora do carro, apostando corridas e desenhando nomes pelos quais a gente já se apaixonou.
Agora que você se mudou, eu ainda pago caro. Todo mês eu acho que não vai dar, mas conto todas as moedinhas pra não receber nenhuma ordem de despejo. Se não der, mês que vem te peço um empréstimo. Ou você volta a morar aqui.
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