6.2.12

Quis ficar em casa para desaproveitar a vida por uns dias, com medo de me encontrar na rua e não saber o que dizer. Quis ficar em casa me lamentando para a única pessoa que entenderia mais do que o meu sofrimento, que não deixaria no meu rosto um vestígio da minha tristeza, que enfeitaria palavras sem pedir nada em troca. Quis ficar em casa, com medo de atravessar a pista, só para não ter que olhar para os dois lados. Ao invés disso, fiquei olhando para o teto.
Quis ficar em casa contando quantos carneirinhos seriam capazes de pular um prédio de dezoito andares, ou quantas Marias pulariam dele. Quis ficar em casa presumindo o que era melhor para os outros, que não vissem meu estado deplorável, que poupassem os olhos virgens. Quis ficar em casa e correr os riscos de encarar novamente a solidão.
Quis ficar em casa, e não no lar.

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