3.1.11

Há dezessete anos atrás nasciam algumas Marias, todas elas prontas para disseminar essa síndrome Mariesca aos homens, esses pobres mortais. Nasceram sabendo que jamais seriam mãe de um Jesus, mas que poderiam facilmente se tornar Marias Madalenas. Algumas delas simplismente resolveram virar Helenas, Luizas, Joanas... Não aguentaram o fardo de carregar esse nome. Minha mãe não poderia ter me dado outro nome senão esse. Se eu não fosse Maria, que tipo de mulher eu seria?
E além do mais, não sou só Maria, sou Elisa também. Sou duas mulheres em uma só, e finjo que suporto. Sou a "mulher que ocupa o primeiro lugar" e também sou a "mulher feliz"... ao menos, deveria ser. Minha mãe não pensou nisso antes de escolher meu nome. Ela queria uma Maria, uma Mariazinha que veio diferente da família toda. Que destoou por ter os cabelos cacheados, os olhos grandes, os trejeitos desajeitados, desastrados. Que aprendeu a rir de qualquer coisa antes mesmo de falar. Que queria ser mais esperta do que todo mundo, que jogava o arroz no chão e comia feito cachorro, que aprendeu a ler sozinha só pra entender a Mônica e a sua turma... Mas a Carmen, a Lúcia, não pensou nisso quando engravidou. Ela só queria uma Maria.
E ser mais Maria ou mais Elisa do que eu, isso é fácil, sabe. Só não me vejo com outro nome. Aguento firme esse posto de "mulher que ocupa o primeiro lugar", que é o que as Marias desse mundo são. Também aguento ser a "mulher feliz", como todas as outras Elisas desse mundo. Ser única não é meu privilégio. As Marias estão aí. As Elisas também.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

say what you will say