Via-se claramente nos olhos dela que nenhuma outra pessoa poderia trazer maior felicidade em sua vida.Separá-los da forma como Deus havia feito era uma crueldade,algo tão inescrupuloso e desagradável que fazia brotar lágrimas de raiva e de rancor em quem visse a cena dela ali,sorrindo para o caixão aberto,enquanto todos se retorciam de tristeza.Ninguém ousava perguntar ou falar nada,era claro o seu estado de choque... Tão claro que ela só foi capaz de pronunciar umas poucas palavras em voz baixa,sem vacilar o sorriso radiante nem por um segundo.
- Não existe vida após a morte. Não existe morte antes da vida.
Os outros continuaram calados.Poderiam refletir por alguns minutos sobre aquilo que fora dito,poderiam pensar sobre essa frase até por um dia inteiro,mas nunca pelo resto da vida.Ela continuou ali,de pé,forte como... como ela.Eu não pensei na frase mas também não conseguia tirar os olhos dela.E ela não percebia que a dor que eu sentia era quase tão grande como aquela que queria se alojar dentro do seu coração,mas que ela não deixava em hipótese alguma.
Eu não conseguia estender-lhe a mão e tocar-lhe o ombro só para confortar,me sentia incapaz,me sentia... morto?Não poderia me explicar,não poderia pedir a ela as desculpas que eu tanto ensaiara,me declarar e me entregar por inteiro,porque meu coração doía,e eu estava preso à terra assim como a terra estava presa em mim.A chuva começou em alarme,como é normal acontecer em histórias tão tristes,mas ela continuava sorrindo,talvez em favor às lágrimas,talvez por achar que assim ela suportaria melhor...
E a tampa daquele baú infinito da morte se fechou.Pela última vez eu vi o seu sorriso,pela última vez eu sabia que aquele momento ficaria guardado no coração dela,e talvez eu não soubesse nunca mais o que aconteceria,as vidas passariam,outras pessoas viriam... e eu teria de me conformar com a escura solidão que me aguardava sob a terra.
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